Minha Primeira Vez com meu Melhor Amigo
Caro leitor,
Sou Bento, 18 anos completos na época do ocorrido, súdito nesta corte fluminense, e vim contar-lhes um conto real de um tempo passado.
O que vou relatar nessas páginas, estimado leitor, aconteceu há tempos enquanto estava comprometido a outros propósitos. Morávamos todos na rua dos Mata-Cavalos, acerca do aqueduto da Igreja de Nossa Senhora da Lapa. Aos quinze anos, em virtude de uma promessa feita por minha mãe por ocasião do meu nascimento, fui mandado ao seminário para formar-me padre. O ano deveria ser por volta de 1857, se bem me recordo.
Lá conheci Ezequiel de Sousa Escobar, um outro seminarista que vinha da província do Paraná para estudar na capital do Império. Seu pai era um advogado de Curitiba, aparentado com um comerciante da cidade, que era responsável pelo bem estar do jovem longe das vistas da família. Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo. O sorriso era instantâneo, mas também ria folgado e largo.
Era mais velho que eu três anos e eu seduzido pelas suas palavras, sentia um acolhimento diferente daqueles que já havia sentido. Era uma sensação que transcendia o reino dos sentimentos e transpassava o corpo físico. Toda vez que ele se aproximava durante as lições ou nos momentos que estávamos a realizar as tarefas do seminário, esse sentimento aflorava e me excitava.
Estive quase a contar-lhe logo, logo a minha história, mas me contive, pois não sabia como iria reagir. Eu desde pequeno sentia um desejo estranho e mal compreendido por rapazes, que foi aflorado nos tempos do seminário. Nunca deixei transparecer-lhes para vivalma, mas Escobar me fazia sentir diferente. A princípio fui tímido, mas ele fez-se entrado da minha confiança.
Escobar veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até o fundo do quintal. Eu ainda não era casmurro, nem Dom Casmurro; o receio é que me tolhia a franqueza, mas como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las e Escobar empurrou-as e entrou. Entrou fundo como nunca ninguém havia entrado antes. Cá o achei aqui dentro, cá ficou, e depois daquela noite tudo mudou.
Apesar de nutrir fortes desejos no meu âmago antes mesmo de saber do que se tratavam, não tinha coragem de abrir meu coração. Os padres gostavam de mim, os rapazes também e Escobar, mais que os rapazes e os padres. Eu não queria arruinar tudo isso por causa de minha incontida lascívia.
O jantar no seminário de São José era cedo, por volta das 5:30, depois atendíamos à missa do fim do dia, e íamos às celas onde não éramos trancados, pois não havia chave nas antigas e pesadas portas de ferro e madeira. Algumas noites eu sofria de insônia e Escobar vinha-me fazer companhia. Em uma dessas noites ele tocou à porta da minha cela como de costume, mas eu pude sentir uma tensão, um certo nervosismo no ar.
Como de costume, deitamos na minha cama à luz de uma única vela, para não chamar atenção dos padres que volta e meia circulavam pelos corredores, certificando-se que estavam todos em suas respectivas celas nos braços de Morfeu.
Escobar parecia ansioso naquela noite, como se quisesse alcançar algo, mas não pudesse tocar. Eu logo perguntei o que havia, se algo tinha sucedido, e ele desconversou, como se tentasse desviar do assunto. Escobar era muito polido; e conquanto falasse mais do que veio a falar depois, ainda assim não era tanto como os rapazes da nossa idade; naquele dia achei-o um pouco mais expansivo do que de costume.
Os olhos de Escobar, claros como já disse, eram dulcíssimos. Fiquei observando-o atentamente por um instante, sem que ele notasse. Realmente, era interessante de rosto, a boca fina e chocarreira, o nariz curvo e delgado. Seus lábios estavam úmidos e entumecidos, e atraíam meu olhar como a armadilha a uma lebre.
Nesse momento Escobar sem querer esbarra suas pernas de encontro às minhas, e posso sentir o vigor de seu membro tocando de leve meu corpo. Aquele movimento veio carregado de enorme surpresa por parte de ambos, e uma sensação de calor tomou meu corpo. Nesse instante eu me levanto assustado, e Escobar percebendo a situação quebra o silêncio e me pergunta:
- Bentinho tu és capaz de guardar segredos? - Respondi que sim, por suposto. Mas não estava preparado para o que viria a seguir. Ele me contou que algumas vezes, quando o membro entre suas pernas ficava rígido e ele o acariciava, ele expelia um líquido branco viscoso, após uma sensação de enorme contentamento.
-Você quer ver? - Ele perguntou já levantando sua camisa de dormir e mostrando um mastro enorme e grosso surgindo por entre suas pernas, que pulsava como se fosse explodir. Aquela visão pegou-me de surpresa e eu não tive reação. À medida que eu direcionava meu olhar, sentia algo crescer entre minhas pernas também, causando um misto de emoções entre medo e prazer.
Escobar aproximou-se e começou a acariciar seu membro, movimentando a pele que envolvia a cabeça de cima a baixo. Aquela cena estava me consumindo por dentro. Eu já não estava mais sendo capaz de manter o recato frente a tudo aquilo, até que ele diz:
-Você quer tocar?
Quase desvairei nesse momento. Aquele homem que sempre fora mais que um fiel amigo, ainda que por algum tempo eu não o soubesse, estava ali, nu, com seu membro enrijecido mirando direto a mim. Apesar do medo, o instinto foi mais forte e num impulso tomei as rédeas da situação, aquele mastro na mão e logo comecei a acariciá-lo. Escobar fechou seus olhos e começou a sussurrar baixinho, de prazer e de torpor.
Nesse momento ouvimos passos distantes no corredor, e como duas aves de rapina, apagamos a vela e corremos para a cama juntos, debaixo das cobertas. Uns instantes mais tarde vimos por debaixo da porta a sombra de Dom Matias, o velho sacerdote inspetor do seminário, que passava devagar, certificando-se de que não havia ninguém desrespeitando o toque de recolher do claustro.
Assim que vimos a sombra de Dom Matias passar a porta, respiramos aliviados, dando-nos conta de que nossos lábios estavam extremamente próximos uns dos outros. Os olhos de um na linha da boca do outro. Neste instante, como de sopetão, sinto o calor e a doçura dos lábios de Escobar de encontro aos meus. Já havia beijado Capitu antes de seguir ao seminário, o que me havia feito sentir como homem. O beijo de Escobar, todavia, me havia feito sentir amado.
Meu coração dispara como uma banda marcial em dias de parada militar. Não sei como reagir, e o instinto me impede de parar. Nunca havia sentido a sensação que tomou o meu corpo. Um misto de lascívia e volúpia se apoderaram do meu ser, e eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Escobar.
Seu cheiro, seu gosto, tudo me excitava. Agora abraçados, com os lábios unidos, acariciando os cabelos de um e outro, ficamos apegados por nem sei quanto tempo. Minha sensação fora de que o tempo havia parado; o universo havia se consumido naquele instante, naquela sensação e naquele momento nada mais importava. Nem Dona Glória, minha mãe, nem Tio Cosme, e prima Justina, nem José Dias ou mesmo Capitu. Ninguém mais importava! Havíamos apenas nós dois neste mundo, nosso abraço, nossos lábios unidos e nossos membros novamente eretos, agora se tocando por debaixo das camisas de dormir.
Um calor que partia de dentro consumia meu corpo e o de Escobar. Quanto mais nós nos beijávamos, mais queríamos nos beijar. Parecia que nossos corpos desejavam aquele toque há muito tempo. Nesse momento, Escobar delicadamente pega a minha mão e coloca novamente sobre seu membro. Meu coração parece querer sair pela boca. Com toda a doçura, ele conduz minha mão como um maestro conduz uma orquestra. Em movimentos delicados de cima para baixo, vai acompanhando a trajetória com sussurros indecentes em meu ouvido.
Eu quase perdi o juízo naquele momento! A cada movimento das minhas mãos, meu coração batia mais forte e minha respiração ficava mais ofegante. Escobar dizia que desde que chegara havia me desejado secretamente, e sabia que o sentimento era recíproco. Apesar de não ser mais jovem quando tudo isso aconteceu, tinha lá meus 18 anos completos, ainda era absolutamente inexperiente no que dizia respeito ao amor.
Criado por mãe viúva e extremamente conservadora, em tempos em que a polícia do pecado rondava alerta por todos os lados, não se sabia nada daquilo. Não vivia com rapazes, que me ensinassem anedotas de amor. Não conhecia a violação de Lucrécia. Ouvia comentários e troças dos escravos no terreiro da fazenda, dos homens brutos da cidade, mas não se tinha muita compreensão do que aquilo significava.
Agora, nesse momento, tudo passava a fazer sentido. Era como se um véu da hipocrisia que encobria a verdade do mundo por toda uma vida, despencasse bem em minha frente. A sensação dos lábios de Escobar contra os meus e seu membro em minhas mãos fazia com que tudo fizesse sentido.
Em um espaço de nem sei quanto tempo, o mundo se revelou para mim de maneira como nunca o fizera antes. Escobar era extremamente carinhoso, beijava meu rosto, meu corpo, e voltava aos lábios como se estivesse a tocar um instrumento preciso. Sentia arrepios por todo meu corpo, e algumas partes que eu jamais havia tomado em conta na minha anatomia, tornaram-se fontes de prazer.
Tomado de impulso, levantei-me e retirei a camisola de Escobar para ter melhor acesso a seu falo ereto. Ele fez o mesmo comigo e ficamos ambos completamente nus, abraçados sob as grossas cobertas do seminário. Escobar leva seus lábios a meu mamilo, e eu posso sentir o calor da sua língua envolvendo toda sua auréola. Nesse instante meu corpo estremece. Escobar vai descendo sua língua até a região do meu púbis, e encontra-se com meu órgão ereto.
De ímpeto coloca-o em sua boca. Minha surpresa foi tamanha, que soltei um gemido abafado. Ele passeava com sua língua por todas as regiões do meu falo e aguçava minha vontade de fazer o mesmo. Roguei que deixasse-me experimentar consigo, e ele calmamente consentiu. Nos viramos posicionados um em frente ao membro do outro, e nos entregamos.
Engoli seu membro com tamanha vontade que parecia um beduíno no deserto sorvendo a última gota de água do oásis. Ele fez o mesmo. Eu sugava seu membro que mal cabia em minha boca. Sentia um cheiro forte de homem que entorpeceu-me e preencheu toda a atmosfera da cela.
Aquele aroma de macho viril, exalando de ambos os corpos parecia mexer profundamente com nossas mentes. Era como se não mais existisse o pecado, a moral ou nenhuma das restrições impostas pela sociedade. Apenas desejo.
Não sei por quanto tempo ficamos ali atados um ao outro. Sei que depois de certa feita, já me acostumando à espessura e tamanho avantajados de seu membro em minha boca, sinto-o inchar como cobra prestes a expelir seu veneno. Poucos instantes depois vem um jato invadir minha garganta e ouço um urro abafado por parte de meu amante.
Confirmando a teoria levantada mais cedo por meu companheiro, um líquido viscoso com sabor peculiar e ao mesmo tempo delicioso saltou da cavidade de seu membro, direto às minhas entranhas. O volume era tamanho, que não fui capaz de consumi-lo em totalidade, e senti boa parte escorrer pelos cantos de minha boca até atingir meu pescoço.
Ao mesmo tempo, senti um impulso imenso vindo de dentro, e sem nem mesmo tocar no meu próprio órgão, ele começa a jorrar o mesmo líquido como uma fonte que ao invés de água cristalina, brotava leite viscoso. Escobar sorve todo o líquido para si.
O prazer e os sentimentos do momento foram tamanhos, que não tivemos noção da altura dos nossos ruídos. Em uma questão de instantes, recuperados do torpor, escutamos os passos de Dom Matias no corredor. O monge ancião aparentemente confuso pelo ruído, à luz fraca da vela cuja chama flutuava agitada de um lado para o outro, procurava evidências de um crime para poder aplicar-lhe o castigo.
Passados alguns instantes rondando nosso corredor, o velho sacerdote desistiu da busca, e a luz da vela foi desaparecendo aos poucos pela fresta rasteira da porta. Nosso coração, já acelerado, parecia sair pelo peito. Após todas as emoções, um remorso e uma culpa enorme tomaram conta de mim.
Estava absolutamente confuso sobre tudo aquilo que acontecera e não sabia o que pensar daqueles eventos. A única coisa que estava clara, é que aquilo era pecado e deveríamos guardar segredo absoluto, levando ao túmulo o que havia acontecido ali naquela cela, naquela noite.
Escobar desculpou-se como quem tinha cometido um grave crime. Disse que não sabia que demônio havia possuído seu corpo e que aquele comportamento jamais se repetiria. Eu continuei em silêncio, sem saber o que dizer. Quando ele soltou tal afirmação, meu coração parou por um instante e senti minhas mãos gelarem.
Sentia-me extremamente culpado, mas não queria destruir nossa amizade, e afastar-me de Escobar. Não queria que aquele fatídico acontecimento acabasse com o apreço mútuo. Disse a ele que ele não fez nada contra a minha vontade, e que deveríamos guardar o acontecido sob o mais absoluto sigilo.
Ele colocou de volta sua camisola, acedeu com a cabeça e se despediu com um toque carinhoso em meu peito e um aperto de mão. Saiu logo em seguida, e cerrou a porta de cela com todo cuidado, desaparecendo pelos escuros corredores.
Eu não dormi nada naquela noite. Não conseguia parar de pensar no que havia acontecido entre mim e Escobar. Minha cabeça girava e quando dei por mim o sol já raiava e o galo cantava no terreiro. Levantei-me, lavei meu rosto ainda com resquícios da noite anterior, e o gosto do leite de Escobar na boca. Aquela lembrança atiçou meus desejos como ferro em brasa, mas tive de conter meus ímpetos. Troquei a batina e sai para tomar o desjejum ainda atordoado.
Chegando ao refeitório sentei-me no lugar de sempre, em frente a cadeira de Escobar que estava vazia. Ele demora alguns minutos e chega logo depois, atrasado, e age como se nada tivesse acontecido. Cumprimenta-me e aos demais colegas e segue em uma conversa inocente e descontraída.
Eu não conseguia agir com tal naturalidade. O que havia acontecido na noite anterior tinha proporções de uma hecatombe diluviana. Estava em silêncio envolto em meus pensamentos, quando sou interrompido por Escobar que perguntava qualquer coisa sem importância, pedindo minha aquiescência. Fiz que sim com a cabeça sem ao menos saber do que se tratava, só para ter a oportunidade de olhar para os lábios daquele homem que horas atrás haviam sido meus.
Eu não consegui concentrar-me em nada no resto do dia. Tivemos lições de Latim, Grego e Catecismo pela manhã, mas eu não fui capaz de apreender nenhuma informação . À tarde fomos ao jardim cuidar da horta. O calor era intenso como de costume nas terras do São Sebastião do Rio de Janeiro, e alguns seminaristas retiram parte da batina que cobria o peito, ficando apenas em mangas de camisa.
Escobar seguiu o exemplo dos demais rapazes e eu podia ver as linhas de seu corpo através da fina cambraia de linho. Aquela visão entorpecia-me, confundindo meus pensamentos. Várias questões surgiram em minha mente, em uma velocidade que nem eu mesmo poderia compreender, ainda que empreendesse o esforço.
Finda a atividade no jardim, fomos novamente em direção às celas lavar-nos e prepararmo-nos para o jantar. Escobar se aproximou discretamente por trás de mim e pousou seu braço sobre meus ombros. Com sua voz suave sussurrou acerca de meu ouvido e disse:
-Não consegui parar de pensar em nosso encontro durante todo o dia. - Nesse momento senti o frio invadir meu estômago e respondi:
-Também não.
-Precisamos conversar sobre o assunto. - ele falou.
Disse que precisava de tempo para colocar meus pensamentos em ordem, mas que gostaria de ter com ele novamente em momento oportuno.
Ele abriu um sorriso malicioso com o canto da boca e disse:
-Daqui a alguns dias passo novamente na tua cela para discutirmos a questão. Espera-me com a porta entre-aberta como de costume.
Aquiesci com a cabeça e seguimos em caminhos separados.
Chegando em minha cela, estava ofegante, com o coração disparado. Sentia um misto de prazer e culpa que não podia controlar. O que Escobar teria para falar comigo? O que iria dizer depois de tudo?
Refresquei-me rapidamente, troquei os trajes para o jantar, e tomei o corredor em direção ao refeitório. Minha cabeça estava acelerada, pensando na noite anterior, e no que aconteceria na próxima vez que Escobar viesse a visitar-me.
A próxima vez, contudo, não tardaria a chegar! Mas esse conto ficará para uma outra oportunidade. Saudações cordiais do casmurro que por falta de melhor ocasião, decidiu sair de sua concha tarde, o que é melhor que nunca.
Autor: Luiz Guilherme
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FONTE - Conto Enviado pelo Internauta.