Câncer de Testículo!
Câncer de Testículo!
Anônimo.
Você nunca imaginaria que um simples e perturbador banner sobre autoexame testicular na parte inferior do Hotmail Messenger poderia salvá-lo do que seria o pesadelo da sua vida e, no mês seguinte, já descobrir uma massa em suas partes íntimas.
Lembro-me do médico dizer que não tinha o que me preocupar, mas me deu um pedido de ecotomografia “por precaução”. Se não fosse o radiologista da eco, eu provavelmente não estaria aqui narrando estes fatos. Foi ele quem me alertou para a gravidade da situação.
Duas semanas depois, voltei ao mesmo centro médico para uma segunda opinião. Era 12 de dezembro de 2001, o dia em que tudo começou. Eu tinha apenas dezenove anos e, como qualquer pessoa que está prestes a começar a faculdade, estava cheio de sonhos. No entanto, quando dizem que você tem um tumor em um dos testículos, as coisas mudam drasticamente para sempre. Que coisas? Tudo! Sua mente, sua alma, sua fé e seu corpo com todas as cicatrizes são a prova de suas batalhas e experiências vividas.
Lembro-me apenas de algumas coisas, como, por exemplo, as palavras que saíram da boca do médico enquanto me examinava: “Há um tumor em seu testículo direito e você precisa extirpá-lo amanhã”. “O quê? Não podemos fazer isso em algumas semanas? Depois do Natal?”, eu sugeri. “De jeito nenhum! Você fará sua admissão no hospital assim que sair deste consultório e um urologista passará no seu quarto para explicar o procedimento”, acrescentou. Você já esteve em uma situação estressante inesperada a ponto de fazê-lo engasgar? Quando o médico me auscultava, eu engasgava toda vez que ele me pedia para expirar. “Relaxe. Não dê muita importância a esta situação”, ele sugeriu enquanto continuava a me verificar. Mas eu estava em pânico! Eu mal sabia que havia um caroço e, de repente, para saber se era cancerígeno ou não, tinha a primeira de várias cirurgias agendadas para o dia seguinte! A única coisa que o médico sabia era que tínhamos que agir imediatamente para salvar o testículo ou retirá-lo em caso de um cenário ruim. Para ser honesto, naquele momento, perder um testículo não era uma preocupação, pois sabia que poderia viver só com um.
No dia seguinte à cirurgia, o urologista veio ao meu quarto e disse que teve que fazer o plano B, a orquiectomia parcial, porque não havia como salvá-lo. Mas a história ainda não havia chegado ao fim: três semanas depois foi confirmado pela biópsia que o tumor era maligno e tive que voltar para a sala de operação, pois era preciso confirmar que o câncer não havia se espalhado. Infelizmente, quimioterapia foi o caminho a percorrer.
Quando você é diagnosticado com algo tão terrível, nada mais parece importar. Você não tem tempo nem energia para se concentrar em outros aspectos da vida. Esperava que tudo funcionasse a meu favor, mas, por outro lado, estava petrificado com a ideia de não conseguir superar tudo isso. Estava tão bravo com o mundo! Felizmente, Deus não apenas colocou as pessoas certas ao meu lado, mas também me deu forças para passar pelo tratamento e seus efeitos colaterais a fim de derrotar o câncer pela primeira vez na minha vida.
Sim... primeira vez... porque, nove anos depois, fui diagnosticado com câncer testicular pela segunda vez.
Naquele momento, nada parecia fazer sentido, como se o destino estivesse pregando uma piada de mau gosto, que talvez a primeira vez não tivesse sido suficiente. De acordo com os médicos, era um câncer diferente do anterior, então, o tratamento consistiu em radioterapia e nenhuma quimioterapia, o que definitivamente tornou as coisas mais suportáveis.
No entanto, o principal problema para o urologista não era somente o câncer, mas a retirada do único testículo que eu tinha, porque o tumor estava localizado dentro dele. Mesmo tendo vivido perfeitamente bem com um só por quase uma década, ele explicou cuidadosamente como seria a nova situação, afirmando que pacientes com meu diagnóstico recebiam implantes para diminuir qualquer tipo de ruína emocional ou psicológica devido à nova condição física. Destacou que, apesar dessa “nova condição”, minha vida sexual não seria afetada, desde que eu controlasse o nível de testosterona regularmente. Também me incentivou a congelar espermatozóides para ter filhos no futuro.
Para ser honesto, eu estava tão cansado de lidar com o câncer que só queria me livrar dele, mas, do ponto de vista médico, não é tão simples: não importa qual seja sua condição de saúde, remover o órgão reprodutor sem razões médicas consistentes é considerado castração. Como nunca quis ter filhos, não poder ser pai era algo irrelevante (curiosidade: acabei tentando, mas minha amostra de esperma tinha baixa mobilidade e não valia a pena preservá-la).
Em breve, vou completar uma década nessa nova “condição” e posso dizer que nunca me senti mais homem do que agora. Parece cliché, eu sei, mas é a verdade. Meus testículos não definem minha sexualidade, mas não posso negar que os implantes me ajudaram a reconstruir minha confiança.
Fonte: https://issuu.com/falonart/docs/falo14/s/11008808
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